Um café e um amor. Quentes, por favor!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Don't let me down!

É só isso que preciso falar,faça o que quiser,fale o que quiser, mas não,não me decepcione.
Não mate as poucas expectativas que me sobraram, a pequena (quase invisível) coragem de acreditar em alguma coisa que sobrou.Eu juro que não peço mais nada,que não cobro nada,eu nem menos vou esperar alguma coisa, que isso aumenta as chances disso acontecer.

Sabe,ta cada vez mais difícil,queria aquele sol que brilhava antes dessas tempestades começarem,o sol nunca mais brilhou daquele jeito,perdeu a força,a vontade,sei la, ta morrendo aos poucos.Eu só não quero que esse sol morra e o escuro tome conta de vez desses dias,por isso,repito várias vezes:não me decepcione,não me decepcione,don't let me down!


Larissa Castilho Lemos

domingo, 23 de maio de 2010

Perdida no abismo

Sei la nada além de que as coisas são assim mesmo, problemas todo mundo tem pode acreditar os seus não são os únicos, tem muita gente num poço muito mais fundo que o seu se esforçando pra sair dele e você ai parada,não sai disso,não troca a fita.Só acho que você devia prestar mais atenção nas coisas a sua volta, e ver que tem muita gente do teu lado,torcendo por você,sofrendo por você.Qual é? vai ficar a vida toda nesse buraco? tem muita gente disposta a te ajudar e você ai barrando aproximações, se não tiver vontade de sair dessa,não vai sair mesmo,você ta quase virando parte desse poço escuro,e acredite,se não sair dessa logo,vai ser cada vez mais difícil.E se o problema for uma corda é só falar,tem muita gente disposta a jogar uma e te salvar desse abismo.

Larissa Castilho Lemos

sábado, 22 de maio de 2010

humanos demais !

"Ah, meu amor, as coisas são muito delicadas. A gente pisa nelas com uma pata humana demais,com sentimentos demais. Só a delicadeza da inocência ou só a delicadeza dos iniciados é que sente o seu gosto quase nulo.Eu antes precisava de tempero para tudo , e era assim que eu pulava por cima da coisa e sentia o gosto do tempero."
Clarice Lispector

O ser gritante!

"Mas se eu gritasse uma só vez que fosse, talvez nunca mais pudesse parar. Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim; enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber; mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos. Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável. Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão, pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante."
Clarice Lispector

Segunda-Feira Blues

onde estão os caras que lutavam dia-a-dia sem perder a ternura jamais ?
onde estão os caras que desmaterializavam moedas de dez mil reais ?
onde estão os caras que desconheciam limites ... universal e singular ?
onde estão os caras que desenhavam novas cidades em guardanapos na mesa de um bar?
onde estão as provas, onde estão os fatos ?
as boas novas eram só boatos ?
onde estão os atos de bravura e rebeldia (ternura guerreada dia-a-dia) ?
será que estamos sós ?
onde estão os caras que pregavam no deserto (o deserto continua lá) ?
onde estão os caras que deixavam as portas abertas para a vida poder circular ?
onde está o teatro mágico só para iniciados ?
onde está o espaço não privatizado ?
onde estão os caras que acenavam com a mão invisível um mercado para todos nós ?
onde estão as provas, onde estão os fatos ?
as boas novas eram só boatos ?
onde estão os caras que lutavam e cantavam ?
por um mundo ideal eles gritavam: não estamos sós !
onde estão os caras que diziam que a guerra ia acabar ?
onde estão os caras que diziam que a maré ia virar ?
onde estão os caras que espalharam o vírus, prometeram a cura e viraram as costas ?
Engenheiros do Hawaii

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda verdade,
porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfís não coincidiam.
Arrebentaram a porta.Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.Cada um optou conforme seu capricho,sua ilusão,sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

As palavras me antecedem e ultrapassam


''As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias''.

Clarice Lispector

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Quero escrever o borrão vermelho de sangue

Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.
Clarice Lispector

Desejo e morte!

Se é pra morrer, que seja envenenada.
Sei la,algo como tédios seguidos de loucura,um certo grau de embriagues.Sem álcool.De veneno mesmo. Veneno,veneno,veneno.Em seguida a morte.Morrer também salva.

Se não matar seus desejos,eles acabam te matando.
Me veio na cabeça em mais uma dessas noites de insônia.
Parada olhando pro nada,imagens passando na TV,o silêncio em volta
todo mundo dorme.E eu mais uma vez trocando o dia pela noite,tenho mais
de mistério,escuridão e silêncio do que de tardes ensolaradas.Acho que quanto maior
o silêncio externo maior a inquietação interna,pensamentos sem virgulas, nem pontos finais.Mais
vou parar por aqui porque esses assuntos vão longe,e quanto mais escrevo mais penso e mais lembro
dos desejos,aqueles que matam,matam aos poucos,matam de dentro pra fora,e eu morri muitas vezes,mais nunca fechei os olhos, nunca fechei a alma. Boa noite.Boa vida.Boa morte!


Larissa Castilho Lemos.



Atrás de toda ação, há sempre uma intenção.
(Machado de Assis)

Que seja doce!


"Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte:que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce , talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.Ninguém perguntará coisa alguma, penso. Depois continuo a contar para mim mesmo, como se fosse ao mesmo tempo o velho que conta e a criança que escuta, sentado no colo de mim"(...)
Caio F.

- E você,por que desvia o olhar?

— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."


Rita Apoena

Ler!

"E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente”

. Caio Fernando Abreu in Carta ao Zézim .

Basta uma margarida na sua fossa!

O índice de poluição dos rios é alarmante.
Não entre nessa.
Ponha uma margarida na sua fossa.

O asfalto ameaça o homem e as flores.
Cuidado.
Use uma margarida na sua fossa.

A alegria não é difícil.
Fique atento no seu canto.
Basta uma margarida na sua fossa.

Caio F. Abreu

Lixo e purpurina

"Vem, que eu quero te mostrar o papel cheio de rosas nas paredes do meu novo quarto, no último andar, de onde se pode ver pela pequena janela a torre de uma igreja. Quero te conduzir pela mão pelas escadas dos quatro andares com uma vela roxa iluminando o caminho para te mostrar as plumas roubadas no vaso de cerâmica, até abrir a janela para que entre o vento frio e sempre um pouco sujo desta cidade.
Vem, para subirmos no telhado e, lá do alto, nosso olhar consiga ultrapassar a torre da igreja para encontrar os horizontes que nunca se vêem, nesta cidade onde estamos presos e livres, soltos e amarrados.
Quero controlar nervoso o relógio, mil vezes por minuto, antes de ouvir o ranger dos teus sapatos amarelos sobre a madeira dos degraus e então levantar brusco para abrir a porta, construindo no rosto um ar natural e vagamente ocupado, como se tivesse sido interrompido em meio a qualquer coisa não muito importante, mas que você me sentisse um pouco distante e tivesse pressa em me chamar outra vez para perto, para baixo ou para cima, não sei, e então você ensaiasse um gesto feito um toque para chegar mais perto, um pouco mais perto, apenas para chegar mais perto de mim.
Então quero que você venha para deitar comigo no meu quarto novo, para ver minha paisagem além da janela, que agora é outra, quero inaugurar meu novo estar-dentro-de-mim ao teu lado, aqui, sob este teto curvo e quebrado, entre estas paredes cobertas de guirlandas de rosas desbotadas. Vem para que eu possa acender incenso do Nepal, velas da Suécia na beirada da janela, fechar charos de haxixe marroquino, abrir armários, mostrar fotografias, contar dos meus muitos ou poucos passados, futuros possíveis ou presentes impossíveis, dos meus muitos ou nenhuns eus. Vem para que eu possa recuperar sorrisos, pintar teu olho escuro com kol, salpicar tua cara com purpurina dourada, rezar, gritar, cantar, fazer qualquer coisa, desde que você venha, para que meu coração não permaneça esse poço frio sem lua refletida. Porque nada mais sou além de chamar você agora, porque tenho medo e estou sozinho, porque não tenho medo e não estou sozinho, porque não, porque sim, vem e me leva outra vez para aquele país distante onde as coisas eram tão reais e um pouco assustadoras dentro da sua ameaça constante, mas onde existe um verde imaginado, encantado, perdido. Vem, então, e me leva de volta para o lado de lá do oceano de onde viemos os dois."

Trecho do texto 'Lixo e purpurina' do Caio Fernando Abreu, escrito em 1974, publicado no livro Ovelhas Negras.